segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Entre um espetáculo e outro

Mais um ano passa voando. Ao invés das habituais metas e propósitos que costumam habitar as mentes e ocupar as agendas em intermináveis listas que se cumpridas, fariam de você e do próximo ano, finalmente melhores e diferentes, você apenas festeja silenciosamente as mudanças e os momentos de melancolia com as quais você foi presenteada em 2011.
Pode parecer contraditório que você comemore feliz e resignadamente um ano em que deixou de ir todos os dias ao lugar onde você entrou menina e saiu mulher. O cantinho da Ipiranga onde você trabalhou e foi feliz por 15 anos cultivando duas grandes paixões: os amigos e a escrita. Um ano em que surpreendentemente tudo foi diferente. O primeiro deles em quase 20 anos, em que “parar de fumar” não figura mais em letras garrafais e desesperadas na primeira página da agenda. Um ano em que você não almeja estar mais perto da sua filha, nem começar a correr, fazer pilates, yoga ou comer mais salada. Um ano em que você escolheu suas frutas,esvaziou gavetas, doou livros, roupas, mesmo que ainda não tenha desovado a jornalhada que deveria dividir o condomínio do seu prédio de tanto lugar que ocupa nele. Um ano em que pasmem, você até comprou sapatilhas de ponta, equilibrou-se cheia de expectativa nas danadas e sentiu a estranha e prazerosa dor do recomeço. Pisando pé por pé de uma maneira diferente no mesmo chão. Um ano em que ainda foi possível você reencontrar no mesmo espelho da infância um tantinho do olhar curioso e excitado da menina que não sabia o que a deixava mais feliz: dançar ou estar entre as amigas na aula de ballet. Uma Pedro Alvares Cabral de si própria. Se percebendo pela primeira vez tão perto e ao mesmo tempo tão distante de tudo o que você imaginou. Sabe aqueles filmes tipo Chico Xavier em que você sai lentamente do corpo e fica ali, centímetros acima, pura alma espiando tranqüila e imperceptível sua própria história. Uma visita diária sua a si mesma. Sem prazos ou hora para acabar. Como se cada dia fosse um só dia. Como tem que ser. Em que você tem apenas a singela missào de ser e fazer feliz quem está por perto, além de esperar as próximas 24 horas. As do dia de ontem, por exemplo, serão inesquecíveis. Também depois de 20 anos, a bailarina subiu ao palco de verdade, com plateia cheia de verdade, e deixou-se dançar novamente. O coração bateu, a perna tremeu, mas foi tão bom, natural e inexplicável como a primeira vez. A bailarina sem breu ainda tem palco incerto e virtual, mas está afoita para sair saracoteando letrinhas e coreografando palavras por aqui neste novo endereço. Hoje à noite, na entrega do Premio Açorianos 2011, ela tenta, por hora, seu maior salto, seu mais delicado giro. Como se algo um algo precisasse se perder para que outros algos desconhecidos acontecessem e fossem experimentados. E se lhe fossem dadas oportunidades de novas músicas, coreografias ou companheiros de todos os palcos da vida, a bailarina não teria dúvidas: olharia para trás, agradeceria a plateia e dançaria exatamente como foi, cada um dos passos e tropeços. Tudo de novo.

2 comentários:

  1. Mari, querida amiga, como é gostoso te ler novamente. Torcendo por ti, hoje! E sempre. beijo, Fer

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  2. Mari, que bom que voltaste a escrever! Estamos todos com saudades.
    Um beijo,
    Gabi Chanas

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