segunda-feira, 25 de junho de 2012

Bem em cima da sua cabeça

Engraçado como a vida real de cada um está quase sempre bem distante de muitos dos ideais humanos. Especialmente em tempos em que opiniões, imagens, bandeiras e hábitos estão ao alcance de um clique e de quem mais quiser saber, julgar ou disseminar. Fica fácil assumir posturas responsáveis e politicamente corretas quando nada se tem a perder, nem a ganhar, além de uma inconsistente meia dúzia ou não de curtições virtuais. Vestir a carapuça é simples, complicado é nascer com ela acoplada.
Então nada parece mais cômodo do que aprovar a instalação de uma estação de antenas para a empresa de telefonia Nextel em cima da cabeça da sua vizinha de prédio. Qual o problema afinal? Se a sua cabeça está há bem mais metros e metros de distância da tal antena do que a da sua vizinha? E se isso pode baratear o condomínio?
Não me parece diferente do que lamentar horrorizado todo o tipo de dano que o homem possa já ter causado e continua causando ao planeta, enquanto lhe parece impossível voltar do supermercado com suas compras sem estarem nas sacolinhas plásticas para espalhar higienicamente nos lixinhos da casa inteira. Coincidentemente pode também lhe soar bem complexo acordar meia hora antes para usar o transporte coletivo diariamente, separar o lixo pensando em como ele chegará naquela pessoa que de fato irá reciclá-lo, viver sem celular pendurado na orelha, esperar tranquilamente “um” elevador apenas, tomar um banho bem ágil. Sem dúvida também é cansativo repetir todos os dias para a sua filha que planta precisa ser cuidada, lixo tem que estar na lixeira, "fast food" não faz bem para saúde e a torneira não pode ficar aberta. Tudo isso faz a gente ter certeza dos motivos pelos quais os países desenvolvidos, hoje em crise, aceitam a ajuda do FMI, mas se negam a contribuir com o fundo para ajudar a combater a miséria humana e a ambiental nos países pobres. Da mesma forma, soa para nós também tão natural que deputados criem comissões especiais para votar às escuras e em minoria mais uma proposta canalha para aumentarem os próprios salários. Também não surpreenderia se os senadores aprovassem, caso a votação chegasse ao Senado. Afinal de contas, o absurdo só é absurdo quando pinga no bolso do vizinho e não no nosso. A diferença é que assim como um simples clique pode espalhar todo o tipo de bobagem. Que transforme em celebridade a Luiza que voltou do Canadá e outros tantos sanduíches, iches, iches, que nos façam dar boas e saudáveis risadas. É possível ainda intervir naquilo que durante muitos anos não esteve ao nosso alcance. Fazendo barulho, pautando a imprensa, fazendo passeata. De peito de fora ou não. “Curtindo” na vida real todas as possibilidades que você ainda tem de se indignar. Claro, desde que a antena da Nextel não esteja na sua cabeça, nem o seu marido tenha a aposentadoria estagnada e o seu banho possa ainda ser bem gostoso, quentinho e demorado.


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