segunda-feira, 16 de julho de 2012

Colha suas flores

Me causou emoção, mas não surpresa a entrega de 282 computadores aos professores e alunos da Escola Estadual de Ensino Fundamental Aurélio Reis, em Porto Alegre. A exitosa história do colégio que tem horta, biblioteca, quadra de esportes, além de um exemplar intercâmbio entre pais, alunos e professores. Boas notas, bons modos, bons exemplos. Uma exuberante e colorida flor em meio à aridez e à aspereza dos baixos salários dos educadores, das drogas, da violência e da falta de referências. Um firme modelo de educação emergendo da areia movediça do sistema educacional público.

Não me surpreende porque bate na única tecla na qual eu acredito. Que as pessoas são as únicas agentes ativas de suas vidas, de seus projetos e de seus sonhos. E até dos sonhos alheios, onde mora o maior perigo. Porque se, por inúmeros e plausíveis motivos, você passa a não fazer mais parte do projeto de alguém, onde mesmo você deixou o seu? Perdido numa gaveta? Num cantinho de uma velha agenda?

A pessoa em questão no caso da escola que vem sendo revolucionada já há alguns anos, chama-se Nássara Scheck. Tem nome, sobrenome e uma vontade descabida de fazer diferente. Uma servidora pública que liga bem menos para a divulgação dos salários dos seus colegas porque é bem mais interessada no futuro das crianças e adolescentes que frequentam a escola que hoje comanda. Desejo transformado em atitude e repercutindo em centenas de vidas.

A verdade é que, com exceção da misteriosa "partícula de Deus", quase nada é por acaso. Nenhuma máquina é tão potente que dispense a mão humana. Atrás de toda a história de sucesso há desejo real de ser e de fazer feliz.

Muitas vezes na vida da gente, algumas coisas parecem que jamais acontecerão. Não conosco. Para o bem e para o mal. As boas surpresas como um prêmio, um amor incondicional, uma descoberta surpreendente, uma promoção inesperada, uma viagem inacreditável. Quanto as mais duras situações: uma perda, um desvio de rota, uma doença, uma demissão, um soco no estômago vindo daquela pessoa a quem você dedicou quase todo o seu amor, uma gripe A... Quem diria... Logo com você.

Por isso a história da diretora Nássara é tão bonita e emocionante. Eu não a conheço pessoalmente, mas afirmo sem receio que é muito provável que nada com que a vida pudesse vir a lhe surpreender, a esvaziaria ou abruptamente tiraria seu chão. Nem um pouco da saúde, o marido, o emprego ou a perda de alguém muito importante a faria ceder à perturbadora vontade de desistir de tudo. Porque a motivação da vida da diretora Nássara e de tantas outras “diretoras Nássaras”, que hão de estar por aí, sempre esteve em algo maior. Independente do fim do mês apertado, das dificuldades que ela, como todos seres humanos, possa já ter enfrentado em sua existência, fica seu exemplo. De alguém que planta suas sementes, colhe suas flores, sem esperar que ninguém as regue.



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