terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Mãos de ouro

Arminda Lopes é daqueles seres humanos que iluminam. Integra o seleto grupo de pessoas que externam o jeito como sentem a vida. Não apenas pelo despreendimento desconcertante dos padrões estéticos que seriam os aceitos para a sua geração. Ela veste o que bem entende. É comum encontrá-la com um colar do tamanho e as formas de sua criatividade, desejos e sonhos. Pinta de roxo, pink, azul e verde, mechas dos cabelos. No semblante vivo, o sorriso ainda faz companhia aos olhares curiosos e peculiares sobre o andar do mundo e do ser humano. Uma inquietude que só almas generosas e livres se permitem viver. Não por acaso, com todo o significado e afeto, o véu de seu casamento com o companheiro e maior admirador, Ruy Lopes Filho, foi usado em seu  primeiro trabalho no Ateliê Livre. 

Depois de muita mão no barro, no bronze, recomendações médicas de trabalhar com menos peso, a artista plástica gaúcha já realizou individuais e coletivas nos espaços de arte mais significativos do Brasil. Tem obras no acervo do MARGS, no MUBE (Museu Brasileiro da Escultura), em São Paulo, no Museu Escultórico – Jardim das Esculturas na Coréia do Sul, em Seul, no Museu Pedro Álvares Cabral – Santarém, em Portugal, entre outros. Ainda impregnada de sentimentos e dores pela perda da  irmã, ela visitava um dos seus quatro filhos nos Estados Unidos, quando deu de cara com tropas americanas embarcando para o Afeganistão. Ver meninos das idades dos seus indo para outro continente fazer guerra tornou vital a necessidade de deixar sair de si para  perpetuar em arte. 
De volta a Porto Alegre, a primeira coisa que fez ao pisar no ateliê foi a Madona de Mãos Vazias, sua primeira escultura de protesto. Uma mãe que segura o nada no lugar do filho foi a pioneira de 12 peças em bronze com expressões de dor como o medo, a desolação, o pranto, a espera, a entrega, a súplica, a repulsa, o encontro e a pergunta em obras de mulheres vestidas como afegãs. 
Madona

Miseráveis foi um divisor de águas em sua maturidade artística. Com essa série, ela foi a primeira e única escultora gaúcha a expor no Salão do Louvre, em Paris, em 2007. No mesmo ano ganhou da Sociedade Acadêmica de Artes, Ciências e Letras de Paris, na França a Medalha Vermeill. Hoje a escultora trabalha na confecção de um monumento para um programa de doação de órgãos em Gramado. Recentemente fez uma emblemática Cruz de Berços hospitalares na Praça da Saudade, no projeto Artemosfera, na capital gaúcha. Reconstruiu a pracinha infantil que fica acima da intervenção artística em um árduo trabalho, onde providenciou iluminação, limpeza, novos brinquedos, tocos de árvore e tudo mais que a deixasse linda e agora aproveitada pela comunidade.
Cruz de Berços e a artista para o projeto Artmosfera.

– Não entendi porque a cruz não foi muito divulgada. Acho que foi forte demais. Mas era bem isso que eu queria: atingir o coração de cada um que por lá passasse. É uma vergonha a falta de leitos e o descaso dos governantes gaúchos com a saúde pública.


Créditos: Foto 01 / Foto 02 e 03: Arquivo pessoal Arminda Lopes

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