sábado, 7 de janeiro de 2012

Ai Se eu te Pego....

Como se nada mais acontecesse de interessante e importante no país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza, um ano encerrou e o outro começou e um dos assuntos da primeira semana do ano em que o mundo ia acabar foi se é justo ou não o músico paranaense Michel Teló fazer sucesso internacional com o hit Se eu te Pego. A irrelevante discussão além de disseminar nas redes sociais pencas de comentários irados e patéticos de ambos os lados da polêmica, foi parar na pauta de programas de televisão bacanas e sérios, gerou comentários nas emissoras de rádio e foi o assunto de gente de conteúdo, culta e um tantinho preconceituosa que escreve e forma opinião por aí. A questão não é nem a qualidade musical do cara. Não gosto muito do Ai se te Pego. Ainda não aconteceu, mas se for dançar e me divertir numa pista, é bem meu tipinho adorar, com coreografia e tudo. Gosto daquela “dar uma fugidinha com você”. Gosto, danço, dou gargalhada e escrevo aqui isso sem nenhum drama de consciência. Cada macaco no seu galho. Posso não curtir o galho do outro, mas não é por isso que vou torcer para ele despencar do galho e se arrebentar no chão. Ao mesmo tempo que faço o exercício permanente de tentar não escrever sempre as mesmas coisas sobre os meus tão particulares medos e sensações, afinal, quem se interessa por isso? Percebo que não faço nada além de cuidar da minha vida e da de mais ninguém. Coisa chata isso. Gente pesada, que não sabe dançar, nem ser feliz. Ninguém vai ser uma pessoa melhor porque consome uma música com mais ou menos qualidade, lê um livro de auto-ajuda ou devora Dostoievski. Delira ouvindo Fábio Junior ou só suporta João Gilberto sussurrando ao pé de um ouvido infinitamente superior que o dos outros mortais. Não é assim que a gente mede o quanto as pessoas são legais e merecem nosso respeito. Deixa o Neymar dar risada, rebolar no palco, o Paulo Coelho vender livro em Kuala Lumpur, os soldados brincarem na hora da folga, deixa o menino fazer sucesso internacional. Se fossemos um país que só consome cultura descartável, valia a reflexão. Por isso é a desgraça alheia que vende jornal. O povo tem gana do êxito do outro. Na contramão do movimento meirritaosucessodosoutros, eu inicio 2012 fazendo uma proposta para você que adora escrever, fazer poesia ou qualquer coisa que você acredita que possa fazer algum sentido para quem for ler. Valem fotos, contos, crônicas, relatos, frases soltas e até declaração de amor. Eu vou escolher e publicar aqui no meu blog. Meu e-mail é mbertolucci@hotmail.com. Espero que chegue bastante coisa. Vou ficar feliz em espalhar palavrinhas boas de gente talentosa por aqui. Cadum, cadum... Feliz 2012!   

6 comentários:

  1. Amei Mari, como sempre, superando minhas expectativas! beijoooo, Fer

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  2. Concordo com tudo! Nada a acrescentar!

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  3. Mari querida, saudades de ti! Parabéns pelo prêmio Açorianos! Adorei! Olha, tu sabes que eu nem sei que música é essa! hahahaha só escuto as pessoas opinarem! Eu não costumo gostar de música (de massa), nunca fui fã nem dos Menudos, quando todas as minhas amigas adoravam! Mas acho válido teu comentário sobre cada um sabe o que faz com o seu...qualquer coisa. Viva a liberdade de expressão e o direito pelo consumo de coisas boas ou ruins. O critério é nosso. Vamos marcar uma coisinha? superbeijo, saudades, Doce.

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  4. amei maricota!!! é isso ai. lembrei de parte de uma poema de Fernando Pessoa: "Segue o teu destino. Rega as tuas plantas. Ama as tuas rosas. O resto é a sombra de árvores alheias" um porre gente sempre pronta a criticar os outros! beijooosss

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  5. TCHUTCHUCAS E TIGRÕES

    Percival Puggina

    Alguém teve a feliz ideia de me mandar uma seleção de músicas populares brasileiras que, através dos tempos, exaltam a mulher. Nos anos 40, cantava-se que "a deusa da minha rua tem olhos onde a lua costuma se embriagar". Nos anos 50, "o teu balançado é mais que um poema; é a coisa mais linda que já vi passar". Nos anos 60, "nem mesmo o céu nem as estrelas, nem mesmo o mar e o infinito não é maior que meu amor, nem mais bonito". Hoje, a coisa está assim: "Tchutchuca vem aqui com teu tigrão. Vou te jogar na cama e te dar muita pressão". Ou, então: "Pocotó, pocotó, pocotó, minha eguinha pocotó". Ou ainda: "Hoje é festa lá no meu apê. Pode aparecer, vai rolar bunda lelê". E, para arrematar: "Eu sou o lobo mau, au au". "E o que você vai fazer? Vou te comer, vou te comer, vou te comer".

    Sei que tem gente adorando. Sei que existem pedagogos deslumbrados com esses exercícios poéticos e libertários através dos quais se está realizando, com prodigalidade, o sonho de uma sociedade de cabeça fraca, destituída de juízo moral, bom gosto e senso crítico, pronta para ser levada pelo nariz para onde bem entenderem seus condutores. Não me perguntem como foi que nos tornamos assim. Minha resposta vai magoar muita gente porque isso não se instalou por geração espontânea. Isso foi espargido estrategicamente, por gente adulta, dedicada a destruir os valores de uma civilização, contando com a colaboração de pais omissos, professores instrumentalizados e religiosos mais interessados em ideologias do que na salvação das almas. O agente laranja que jogaram em cima da sociedade reduziu-a a galhos secos onde não se reconhecem os frutos da boa semente nem a existência de vida inteligente.
    Que queiram fazer isso conosco é fácil entender. Os agentes do mal são astutos e insidiosos. Mas que nos deixemos levar para as profundezas da baixaria e do mau gosto, é incompreensível. Que os rapazes das danceterias se deliciem com as sugestões lascivas das letras e com a coisificação da mulher, reduzida à condição de instrumento de prazer, até se pode explicar, num contexto de libertinagem. Mas que as mulheres não se sintam ultrajadas e entrem na pista com prontidão e requebros de vaca para touro, isso fica alguns anos à frente da minha capacidade de compreensão.
    "E daí?", talvez esteja se perguntando o leitor. Daí, meu caro, que o mau gosto e o deboche arruínam a dignidade da pessoa humana, afetam seu juízo moral, reduzem o discernimento e a capacidade de compreender a realidade. A superficialidade passa a presidir as ações e as relações sociais e a mente torna-se um disco rígido que vai reduzindo sua capacidade à proporção da minguada utilização que lhe é dada. Eis por que todos correm atrás de um diploma, mas poucos se preocupam em fazer jus a ele através do estudo. Queiramos ou não, a cultura tem um papel determinante nos padrões da vida social e a dedicação ao estudo cumpre função importante no progresso individual e social. O que havia de melhor na nossa cultura e no nosso ensino foi morrendo de velhice e de tristeza. Ou não?
    As Tchutchucas e as eguinhas pocotós agasalharão entre seus quadris as futuras gerações de brasileiros. E não é difícil prever o que vem por aí, não é mesmo, Tigrão?

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    * Percival Puggina (67) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

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