quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Oi Mãe,


Só para contrariar a tua vontade de passar o aniversário sem homenagens e funções, vou espalhar para que mais e mais pessoas se lembrem que hoje é o teu dia. Esse dia, o 16 de agosto, além de ser o que tu e outra leoa chamada Madonna nasceram, de certa forma é também o dia em que começou a nascer um pouquinho de mim. Assim como no dia 2 de maio, quando faz aniversário o meu também amado pai.
Bem mãe, na primeira linha desse nostálgico punhado de palavras para ti, já te contrario como tu sempre dissestes que era a minha especialidade. A verdade é que talvez seja assim na universalidade de tudo que a palavra mãe compreende: mães que amam demais são profetas infalíveis das vidas de seus filhos. Contigo não foi diferente. Sempre que tu opinas, invariavelmente preocupada e pessimista com o que pode dar errado, eu lembro de uma inesquecível vez em que desci do carro meio atrasada e ouvi teu grito ecoando nos corredores do colégio: “vai perder o dinheiro do bolsooooooooooooooo”. O que aconteceu? Perdi. O dinheiro do bolso era para mim, naquele dia, a única chance de garantir um recreio feliz. Desde então, ao longo desses vários anos, segui menosprezando muitos dos teus alertas. Passei menos cremes do que poderia. Menos fio-dental do que deveria. Deixei de lado o protetor solar que sempre esteve escondido por ti nas minhas necessaires. Saí com menos roupa, cortei menos cabelo, estalei mais os dedos, desperdicei horas e horas de sono reparador. E assim fui crescendo, errando, acertando e aprendendo, não necessariamente nessa ordem. Sem tirar meus objetivos da cabeça, pois teimosia e obstinação se misturam e medem força dentro de mim, sei que jamais saí da tua cuidadosa mira. Usando as poderosas e impulsivas armas que uma efêmera juventude costuma nos emprestar. Eu era mesmo um cavalo selvagem, como um dia me dissestes aos risos. Sem querer e sem saber, tinha o hábito de me escapulir estupidamente de todos os teus eternos e instintivos escudos que nunca deixaram de tentar me proteger. Então, mesmo bem grandona por fora, segui sendo a tua pequena menina destemida. Que chegava em casa com muitos roxos nas pernas e histórias para contar. Opinei muitas vezes sem pensar. Corri riscos. Falei demais, ouvi de menos. Fumei cigarro e franzi a testa demais, comi frutas e saladas de menos. Senti os mais tolos medos, que só não continuavam se agigantando dentro de mim porque tu estavas por perto. Cuidei menos da minha vida do que deveria, perdi tanto mais de tempo pensando em situações e em pessoas que hoje nada me significam. Derramei lágrimas que hoje me fazem rir. Exatamente como tu me disse que iria acontecer um dia. Tudo sempre acabou acontecendo assim. Então, mãe, hoje que é teu dia, pra mim é difícil escrever somente em algumas linhas tudo o que tu representas na minha vida e o tanto de vezes que hoje, tendo a sorte de ser a mãe da Antônia, eu me lembro de nós duas. Porque assim como tu fez e guardou um recorte, eu também folheio as revistas e fico imaginando como será a mulher em que e tua neta vai se transformar. Desejo que ela seja bem cuidada, bem generosa, bem bonita e cheia de atitude. Assim como tu te sentia, me deixam doida as combinações de roupas que ela faz e eu também penso, que ela só pode escolher a dedo peça por peça apenas para me agredir. Da mesma forma que me agonia vê-la de pés descalços, com as mãos geladas, as coisas desorganizadas, os braços fininhos e o olhar perdido. Também me corta o coração vê-la triste como pouquíssimas vezes ela pareceu estar, mesmo que os motivos da tristeza ainda se resumam às bonecas. Só de pensar que alguém pode machucá-la, tenho ímpetos de assassina. Sim, eu também já senti em mim, as dores e as delícias nesses quase sete anos de  vida da Antônia. Então imagino bem a montanha-russa que nós três já causamos dentro de ti nessas últimas quase quatro décadas. Em tempos bem distintos, exatamente como tu, eu também cresci sonhando em ter uma família unida, gerar um ser humano e me tornar alguém independente e capaz de ser muito feliz sem precisar me apoiar em outros alguéns que não sejam vocês dois, os meus pais. Só não consegui ainda ser totalmente independente de ti, né, mãe? Por esses motivos e por tantos outros que não cabem aqui é que eu tenho certeza, mãe, que mais uma vez tu tinhas razão e isso é um fato: somente quando a Antônia for mãe, ela irá nos entender.

Um beijo muito carinhoso,
Parabéns
Te amo

4 comentários:

  1. Oi Mari, me emocionei, tá certo que sou chorona mesmo!!! Mas ficou linda a tua mensagem. Bjs carinhosos Celi

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  2. Mari, li por indicação do Luiz, que ficou emocionado com o teu texto. Muito linda a mensagem. Amei. Beijos, Maria

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  3. Lindo demais, Mari! Descreveu boa parte da minha relação com a minha mãe também, me identifiquei e me emocionei. Beijão!

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