O aniversário da Guga sempre foi mais importante para
mim do que o Dia da Mulher. A Guga é uma das pessoas especiais que eu tenho a
sorte de ter por perto desde a adolescência. Mas não é só por causa dela que eu
simplesmente nunca liguei para o Dia da Mulher. Achava meio machista isso, pô.
Cadê o Dia do Homem? Um atestado de sofrenilda. Pra gente se lembrar que
não votava, não isso, não aquilo e um monte de outros nãos que infelizmente ainda
acontecem muito por aí.
Apenas nunca me senti diferente a ponto de merecer um
dia isolado assim. Até porque antes de ser mulher, nessa época em que eu conheci
a Guga, estava bem mais inclinada para entrar na turma que rasgava sutiã nos
anos 70 e festejava a pílula do que para aquela galera que sonhava com o dia em
que entraria de vestido de noiva na Igreja. Os amigos e a festas seriam os únicos
motivos para reunir pessoas e comemorar o fato de eu ter escolhido alguém
pra dividir a vida comigo. Nem Deus, nem vó, nem pai, nem mãe, nem espírito
santo e muito menos o vestido fizeram com que esse figurasse entre os meus
sonhos de menina. Meus suspiros saiam quando eu pensava em ser mãe, conhecer
quantos lugares mais fosse possível no mundo, ser independente, bem-sucedida no
meu trabalho e feliz. Foi atrás disso tudo aí que eu andei nos últimos anos.
Ainda falta muito lugar para conhecer, trabalho para fazer, e espero que
felicidade para sentir.
Pois então. Além, de eu ser diariamente movida por todos
essas vontades, tenho uma filha que acabou de entrar na primeira série e estou trabalhando em casa pela primeira vez na vida.
Tá bem, você que
está louca(o) para parar de ler esse texto de tanta coisa que tem para fazer entre o trabalho, o colégio, a fila do super, do banco ou o estacionamento da
academia, e por algum motivo ainda não conseguiu. Bem, você só pode achar que eu
pirei. Que tô perambulando de pijama pela casa, delirando com as altas
temperaturas dos últimos dias e me exaurindo feito uma dondoca para conferir os
primeiros temas da minha filha, comprar brócolis verdinhos ou dançar ballet. A verdade é
que implicava um pouco com o Dia da Mulher porque acho que eu estive muito
ocupada atrás de outras histórias, que não a minha própria. Numa cega, insana,
cronometrada e divertida busca pelo o que eu acreditava ser um distante momento
em que eu queria muito chegar. Sonhar por conta própria é mais colorido, mais
saboroso, mais livre, mas bem menos automático e prático no final do mês.
Se por um lado eu faço as unhas sem casamento pra ir, apalpo maçãs orgânicas na feirinha de sábado, sinto medo de sair de carro no temporal com a minha filha, corro, danço,
escrevo sobre eu quero e faço o que bem entendo da minha vida na hora em que
tenho vontade, com exceção dos horários de entrada e saída do Anchieta, por outro
tem sido difícil e até fisicamente cansativo obedecer a mim mesma, cumprir meus
prazos imaginários e organizar o tanto de sonhos que eu tinha para quando esse
momento finalmente chegasse.
Como se o piloto automático desligasse de repente e,
deliciosa e assustadoramente, eu tivesse que pilotar a nave sozinha.
Então,
confesso que pela primeira vez gostei de acordar sem sair tropeçando da cama de
tanto atraso, ouvir bem calminha enquanto ainda me espreguiçava, um parabéns
pelo meu dia, na quinta-feira da semana passada. Finalmente achei que ele
poderia, quem sabe, ser meu dia mesmo. Acredite, ainda deu tempo para eu dar um
abraço bem apertado e ao vivo na Guga.
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