Quem são as maiores vítimas
da epidemia que é falar na internet sobre a vida dos outros (mal, é claro). Serão
as pessoas atingidas – geralmente ricas e/ou bonitas e/ou famosas? Os que despejam
sem timidez suas frustrações e miudezas íntimas no universo virtual? Ou serão aqueles
que se irritam consumindo tudo isso? N
Não tenho paciência, nem coragem para palpitar
online rápida e impulsivamente nem sobre minha vida, nem sobre a dos
outros. O que penso sobre os vestidos do Oscar, o não-gol do Inter, a cara sem
maquiagem da Fernanda Torres ou a magreza da Angelina Jolie. Muito menos sobre
o rosto diferente da filha da fulana e do beltrano.
Não, eu não converso só
sobre política internacional, literatura ou cinema iraniano. Posso até me
arriscar, e aí, no exato sentido do verbo arriscar, a trocar ideias mais densas
sobre o mundo e sobre o que acho e espero dele. Isso geralmente acontece quando estou acompanhada de quem me instiga tais assuntos e essa pessoa quase sempre sabe mais do
que eu. Aí tento ouvir mais do que falar (besteira), e quem me conhece melhor,
sabe o quanto isso me é difícil.
Também tenho opiniões e palpites sobre as
roupas, as fofocas, quem casou, quem chifrou, quem separou, o Lula e a Dilma.
Sobre o filme ruim, o filme bom. A feiura, a gordura, a magreza e a beleza de
quem nem sonha que em um dia de julho gelado, eu nasci ali no Fêmina e que existo até
hoje aqui em Porto Alegre. Pode estar me faltando humor ou leveza para encarar
coisas bobinhas como o volátil e descartável mundo das redes sociais, mas não
acho normal, nem saudável o jeito que algumas pessoas debocham de problemas e fraquezas
de outras pessoas que quase todo mundo sabe onde nasceram, o que fazem, ganham e que
existem até hoje por aí, assim como eu e você.
No meu Facebook ou Twitter
jamais estará escrito “que solzinho
delicioso para relaxar”, nem eu nunca vou dar “bom dia você que acordou de mau-humor e me mandou a merda logo cedo” como
quem quer dar uma indireta para alguém.
São a cada dia mais surpreendentes e
maravilhosas as mudanças que a tecnologia impõem ao mundo contemporâneo. Sobre
o solzinho relaxante e as indiretas, apenas acho desnecessário
narrar minuto a minuto o que eu vejo, sinto, faço, como, acordo ou durmo. A não
ser que meu comentário vá render profissionalmente ou causar sensações boas e
produtivas em outras pessoas.
Já que isso me incomoda, eu que não leia e não
acompanhe ou não siga quem e o que me irrita e também não encha o saco, porque não tenho
nada a ver com o que cada um quer priorizar nas suas vidas.
Preocupa essa disseminação
gratuita de maldade disfarçada de bom humor ou chatice querendo ser alto astral.
Não adianta ter a sensação de que se está sendo engraçadinho, se você continua
a rir sozinho.
Porque se todos os livros, ideias, receitas, conteúdos e
maravilhas universais estão hoje ao simples alcance das pontas dos nossos
dedos, não é com nada disso que adultos perdem tempo e gastam
energia colados na tela de seus computadores e celulares. Ou que crianças e adolescentes definem
prioridades, objetivos e criam hábitos que os tornarão um adulto bacana e apto a
encarar a vida fora do condomínio digital.
Lembra uma rede social antes do Ttwitter
em que cada um assumia um avatar, comprava apetrechos que queria para si,
usava o cabelo que bem entendia, viajava para onde sonhava e praticava a
atividade que dava na telha? Chamava-se Second Life. Nem sei se existe ainda, mas acabou não emplacando. Emplacaram os que tiveram a
ousadia de assumir de vez a segunda vida. Sem personagens,
disfarces ou perucas. Na cara dura mesmo.
Gostei muito do texto.
ResponderExcluirJá fui xingada por coisas que digitei, sem ter intenção de....
A interpretação das pessoas são incríveis, interpretam o que querem ouvir.
bjs
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir"(...) No meu Facebook ou Twitter jamais estará escrito “que solzinho delicioso para relaxar”, nem eu nunca vou dar “bom dia você que acordou de mau-humor e me mandou a merda logo cedo” como quem quer dar uma indireta para alguém.(...)"
ResponderExcluirAcredito que, em alguns casos, relatar certos momentos do cotidiano, por exemplo, não seja algo assim tão inútil. Além das mídias sociais servirem para informar as pessoas, creio que sirvam (também) para compartilhar experiências, Mari. Servem (quem sabe) para encurtar distâncias.
Temos cada vez menos tempo para sair com amigos, colocar o papo em dia (e as fofocas, mais ainda), e muitos de nós acaba por utilizar esses espaços para socializar, estar presente, não passar em branco, digamos.
Logicamente, indiretas para pessoas que nos seguem no Twitter, são nossas amigas(os) no Facebook, por exemplo, são desnecessárias. Nesse ponto, concordo plenamente contigo, embora tenha feito esse tipo de coisa pelo menos uma meia dúzia de vezes.
O stress e a indignação com determinadas posturas, às vezes, são tão grandes que precisamos exteriozar de alguma maneira ou ficamos doentes.
Quando não conseguimos pensar direito, quando somos "pavio curto" ou apenas quando não sabemos o que fazer, o "atalho" acaba sendo as ditas "mídias sociais". Assumidamente ou não.
Embora seja difícil de aceitar, não dá pra pensar que existe maldade em tudo que é publicado neste espaço. Sempre penso o real motivo que leva determinada criatura a publicar isso ou aquilo, tento descobrir o que está por trás, enfim, tentar entender o contexto ao invés de sair rotulando, entende?
Conforme a Miréia Borges falou, as pessoas interpretam o que querem ouvir. E digo mais: interpretam o que querem ler, inclusive a maneira que querem ler.
É indispensável ser na internet aquilo que se é na vida real. Independente do olhar de reprovação do outro.
Beijo!